quarta-feira, 27 de junho de 2012

A POESIA DE JAMIL SNEGE

Depois que o coração silencia
-Jamil Snege-

Para onde vai o canto,
depois que os lábios se fecham?
Para onde vai a prece,
depois que o coração silencia?
E os rostos que amamos
para onde vão, Senhor?
depois que nossas pupilas
se transformam em gotas de lama?
Ontem vi uma andorinha
que devia ter uns cinco milhões de anos.
Será que eu também sobreviverei
ao que restar de mim?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

QUAL O SIGNIFICADO DA LIBÉLULA?

Na primeira vez a surpreendi se debatendo no vidro da janela! Com calma e extremo cuidado a apanhei com as mãos e assim, cansada, se aquietou até recuperar as forças e partir para seu destino. Foi um curto espaço de tempo, coisa de dois minutos e que para nós dois, acredito, tenha sido uma eternidade. Para mim, um cadinho mais de descobertas a respeito de outras vidas e para ela, certamente, a aventura inesquecível de enxergar a vastidão do mundo e não poder entrar.
Graças a Deus, mãos salvadoras lhe devolveram à vida. Era uma Libélula! Na segunda vez nosso encontro foi mais original, bem próximo ao mundo onde vive, onde as águas lhe provêm alimento e um bom tanto de espelhamento. Claro que não era a mesma da primeira vez, mas senti uma certa gratidão naquela segunda. De repente pousou no meu ombro e ali ficou por instantes, inerte, com suas frágeis asas mexendo-se em camera lenta. Depois partiu rapidamente num vôo mágico, para cima, para baixo, para o lado e rente ao espelho da água. Um espetáculo de dança único, esplêndido, que ao meu ver, só as libélulas tem a capacidade de promover. Ambas a cenas se eternizaram em minha mente e um belo dia, novo reencontro, mas desta feita assistindo o filme “O Mistério da Libélula”, uma película envolvente, com bom roteiro, ótimas locações e uma história que realmente emociona.
A cada espaço de tempo, lá ressurgem no meu caminho esses sêres alados mágicos e em cada reencontro, vou fazendo novas descobertas. Desta vez o motivo foram os selos postais lançados em Aland, que retratam duas belas libélulas e que me obrigaram a fazer uma pesquisa rápida para poder chegar até esta linha. Porque daqui para frente, tenho que adentrar na pergunta que muitos já fizeram, outros fazem e por certo, outra legião de pessoas o fará no decorrer do tempo: Qual é o significado da Libélula?
As respostas a seguir foram extraídas do blog Carpe Diem, da Marina Melo, de Itaboraí/RJ (http://marinamelow.blogspot.com.br/2009/03/libelula.html)
Libélula= libellulus, o diminutivo de livro(liber),devido à semelhança de suas asas com um livro aberto, ou libella, que significa balança, pelo movimento de suas asas que oscilam levemente durante o vôo. Aparelhada com o maior olho proporcional do reino animal, a libélula usa seu sofisticado aparelho visual como um radar.
Posicionando-se sempre contra a luz solar, é capaz de detectar movimentos impercepetíveis aos nossos olhos. O batimento das asas e a possibilidade de planar da “demoiselle”(senhorita, como a libélula é chamada pelos franceses),inspirou o brasileiro Alberto Santos Dumont na criação de seu modelo mais bem sucedido. Aparece no outono e simboliza mobilidade, transitoriedade e autoconhecimento.
É a essência dos ventos de mudança, de transformação positiva. Irrequieta, voa incessantemente, planando, dando rasantes, subindo ou pousando como um helicóptero; e parece ter sempre muita pressa. Isso porque este inseto está sempre vivendo o ponto culminante de sua vida(até se transformar em libélula, passando por metamorfoses, sua vida dura em torno de
4 anos e quando adulta, vive muito pouco – 3 meses no máximo- e não tem tempo a perder. Este belo inseto atraído pela Rica Luz, representa a imortalidade e a regeneração da vida julgada perdida, que se encontra no vôo cego que tudo enxerga dentro da própria vida...

Selos postais recentemente
emitidos por Aland e que
motivaram o presente artigo.
A libélula simboliza ir além das ilusões criadas por nós mesmos que limitam nosso crescimento e mudança. As libélulas são um símbolo de autoconhecimento que vem com maturidade. São voadoras fantásticas, rápidas como a luz, torcendo, girando, mudando de direção,
mesmo indo para trás demonstram sempre a necessidade de se levantar e recomeçar. Sigamos então, dentro do que nos for possível, este exemplo de vivacidade que a Natureza nos proporciona atráves desses mágicos vôo da libélula.


terça-feira, 12 de junho de 2012

A POESIA DE MARIA JOÃO CANTINHO

Dai-me o exacto exercício das palavras
flores de carne, sangradas
até à minúcia. Rigorosas.
Mas como dizer a dança
da luz, sobre os teus passos,
o riso, a errância dos gestos
sem que as metáforas destruam a exactidão
e a música se enrole nas sílabas,
como dois amantes
esquecendo a dualidade,
entrando na vertigem da unidade?

Maria João Cantinho nasceu em 1963, em Lisboa. Viveu em Angola até à adolescência e regressou a Portugal, após a independência de Angola. Licenciou-se e realizou a dissertação de mestrado em filosofia, na área de estética. É professora no ensino secundário. Colaborou na revista Livros, na revistas on-line Crítica - Central de Cultura e é membro do conselho editorial da Storm Magazine no jornal de poesia Hablar/Falar de Poesia, pela parte da Casa Fernando Pessoa. Integra o conselho editorial da revista Agulha, onde colabora regularmente. No ano de 2001 publicou o livro de contos A Garça. Em 2002, publicou o livro de poesia Abrirás a Noite com um Sulco, ao qual foi atribuída uma menção honrosa no premio da Associação Fernando Pessoa. Tem publicações diversas, no âmbito de premios literários e menções honrosas, nas modalidades de conto e poesia.

AMOR É FOGO

AMOR É FOGO
sonêto 11 de Luiz Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

quarta-feira, 30 de maio de 2012

FOLHAS DE PLÁTANO

FOLHAS DE PLÁTANO
-Pedro Brasil Jr -
 
Uma após outra se desprendem de sua história.
Lentamente a árvore frondosa fica nua!
As folhas pegam carona com o vento num vôo derradeiro.
Pelo chão, espalhadas como um estranho tapete, preservam segredos de estações vividas.
Suas formas bem lembram a palma de nossas mãos, com aqueles riscos que em muito se parecem com um mapa.
Folhas de Plátano ao léu!
O outono ainda reina absoluto, mas logo o inverno dará suas pinceladas na paisagem enquanto silenciosamente as árvores, aparentemente dormentes, seguirão redesenhando suas novas formas, seus novos mapas, suas novas roupagens.
 Lá se vão pelas encostas da rua as folhas secas de Plátano.
Lá se vão em forma de folhas, os registros de mais um tempo que se esvai.
 Não tão distante, o mundo segue alheio em sua magistral correria.
Assim como em nossas vidas, algumas entre aquelas milhares de folhas perdidas, terão a sorte de uma foto ou até mesmo, por razões diversas, se de manterem "mumificadas" entre as páginas de algum livro.
Folhas de Plátano! Porque a vida sempre se renova!
-Pedro Brasil Jr - 30 maio 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

DA CONCRETUDE

Da Concretude
 -Clarice Villac-
espírito ancestral
magicamente a se materializar...
não carece de pedestal
que sinalize seu caminhar –
pedras sempre foram seu ofício
construindo pontes sobre precipícios...
Imagem : Street Art Utopia, in Gorzow, Poland http://www.streetartutopia.com/?p=9045
Clarice Villac 27.05.2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A POESIA DE HILDA HILST

Amavisse

-Hilda Hilst-


Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A POESIA DE PARVIN SHAKIR

ONDE EU ESTOU?
Parvin Shakir, poetisa paquistanesa
Onde eu estou
Em tua vida?
Na brisa matutina
Ou nas estrelas da noite?
No chuvisco hesitante
Ou na tempestade avassaladora?
No luar de prata
Ou no calor do meio dia?
Em reflexões profundas
Ou em melodias casuais?
Onde eu estou
Em tua vida?
Junto ao trabalho
Ou na praia do final de semana?
Será que por acaso me tens
Entre os dedos antes que eu vire fumaça?
Sou a refeição de todos os dias
Ou o vinho do prazer?
Sou um sonho que termina
Ou um novo amor que surge?
Onde eu estou
Em tua vida?

sexta-feira, 11 de maio de 2012

MENSAGEM PARA TODAS AS NOITES

Que a cortina da noite permita abrilhantar seus sonhos em cores púrpuras! Que ao se abrir ao alvorecer, transforme o dia de cada um no mais belo exemplo de bem viver. Que suas mentes estejam aguçadas para a criação e que suas mãos se estendam para ajudar, para orar e agradecer aos céus e que possam ser ágeis para o labor, para o amor e para acenar, ao final do dia, a ele mesmo, que de toda maneira, te permitiu mais uma graça de viver intensamente.
Tenham todos bons sonhos!
Pedro Brasil Jr – 10/maio/2012

segunda-feira, 30 de abril de 2012

MINHAS ANDANÇAS - DE PALMEIRA À JAGUARIAÍVA

Havia uma pequena estação de trem! Na distância podia-se enxergar a fumaceira tomando conta do ar e os ouvidos logo assimilavam o apito inconfundível e o sino tocando para avisar da chegada do trem. Imponente, a Maria Fumaça parava em frente a estação e seguia fumegante, enquanto pessoas desciam com suas malas e outras embarcavam para destinos inimagináveis.
Estação de Palmeira no final dos anos 60
Até então, eu nada sabia a respeito de paisagens ou de distâncias, a não ser a que separava minha casa da escola, na época, perto de uns sete quilômetros que a gente superava numa charrete. Mas um dia aconteceu de a gente embarcar finalmente naquele trem para uma viagem que até hoje considero como a mais longa que fiz em toda a minha vida. Saindo de Palmeira com destino à Jaguariaiva, recordo que fiquei fascinando observando todos os movimentos ao redor enquanto os homens preparavam o trem para a jornada. Partimos sentados naqueles acentos duros num vagão abarrotado de pessoas de todos os tipos, com suas sacolas, malas, sacos de viagem e muita comida que aos poucos era oferecida gentilmente a quem quer que fosse.
Pelos trilhos, a Maria Fumaça deixava seu rastro e a paisagem distante oferecia as maravilhosas obras de arte da natureza, com seus campos, rios, montanhas e fazendas onde plantações se perdiam no horizonte e onde a boiada pastava tranquila. A viagem era lenta e o dia foi dando lugar à noite até a primeira parada, onde desciam e subiam pessoas apressadas, loucas para fazer um lanche. Tão logo se retomou a viagem, veio a chuva e de cada lado, não se via mais nada a não ser uma escuridão muito densa em meio àquela incerteza da viagem. Não sei quantas foram as horas vividas naquele vagão até o destino final, mas foi cansativo apesar das cenas que se registraram em minha mente para sempre. Lá já se vão quarenta e poucos anos e é claro que a paisagem mudou, a Maria Fumaça se aposentou e a pequena e antiga estação, palco dos sonhos de tantos viajantes deixou de ser o portal das viagens para se transformar numa espécie de centro de atividades culturais.
Antiga estação de Palmeira
Aquela Palmeira que conheci menino mudou muito também, mas em minhas andanças de vida, ainda preservo na mente aquela cidade pacata, com entardeceres ensolarados e o folguedo da criançada pelas ruas com o céu azulado repleto de pipas multicores. Tinha ainda a praça com seu coreto, a igreja matriz e as procissões de fé que praticamente reuniam toda a cidade. E isto sem contar com os bares que ainda tinham na frente os paus onde os peões de boaideiro chegavam e ali amarravam seus alazões. Tudo tinha um aroma de século 19 e as estórias de boi tatá, mula sem cabeça, galo de ouro entre outras, eram passadas de uns para os outros nas rodas de conversa regadas a chimarrão, café ou até mesmo uma cachaçinha amarelinha.
Antiga estação de Jaguariaíva
Os acontecimentos eram anunciados pelo sino da igreja, mas nenhum outro som despertava tanta apreensão quanto o apito da Maria Fumaça singrando as últimas curvas para chegar à estação e despejar viajantes cansados por mais uma jornada através das paisagens de um Paraná distante, com estradas barrentas e cidadezinhas que num estalar de dedos cresceram e deixaram toda aquela magia antiga simplesmente desaparecer.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A POESIA DE ELCIO TUIRIBEPI

Um breve poema



A não ser que amanhecesse noite
Eu poderia explicar este poema
Posto que transcrito em minh’alma
Abrigou-se um indelével sentimento
Assim feito à gentura cristalina e natural
Do sentido visceral que hoje rege com candura
A sinfonia muda e afável dos meus olhos
 
-Elcio Tuiribepi-
 
Veja mais sobre o autor em http://verseiro.blogspot.com.br/
 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A POESIA DE SUZANA MAFRA

PATOS
-Suzana Mafra -
O pato nada sabe do que sinto ou vejo
pescoço escondido em si mesmo

Ninguém se aborrece com o pescoço do pato
Fosse um homem a parar na beira da rua
com o pescoço dobrado e a cabeça enfurnada em si

Ninguém se aborrece com os patinhos
Ninguém se importa mesmo com os poucos patinhos dentro do cercadinho
Último vestígio do mundo selvagem


Veja mais da autora em http://borboletrasnoquintal.blogspot.com.br/

quinta-feira, 5 de abril de 2012

SEXTA-FEIRA SANTA

JESUS CRUCIFICADO

(Meditação escrita por Gibran, numa Sexta-Feira Santa)
 Hoje, e em cada Sexta-Feira Santa, a humanidade acorda de seu sono profundo e, em pé ante as sombras dos séculos, olha, através das lágrimas, o Monte do Gólgota para ver Jesus crucificado em sua cruz... Mas assim que o sol se põe, a humanidade volta a ajoelhar-se perante os ídolos que se erguem sobre todos os montes.

Hoje, guiadas pela recordação, as almas dos cristãos dirigem-se de todos os cantos do mundo às cercanias de Jerusalém para contemplar uma sombra coroada de espinhos que estende os braços até o infinito e penetra através do véu da morte, nas profundidades da vida. Mas mal as cortinas da noite tenham descido sobre o palco do dia, os cristãos voltam a deitar-se à sombra do esquecimento, embalados pela ignorância e a indolência.
Hoje, e em cada Sexta-Feira Santa, os filósofos abandonam suas grutas escuras;os pensadores, seus ermitérios frios e os poetas, seus vales quiméricos para se reunirem numa alta montanha e escutar, calados e reverentes, um jovem dizer de seus assassinos:”Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Mas mal a quietude tenha silenciado os ruídos do dia, os filósofos, pensadores e poetas voltam a envolver suas almas nas mortalhas de livros gastos.
As mulheres distraídas pelo brilho da vida, apaixonadas por jóias e vestidos, saem hoje de suas casas para ver a mulher dolorida, de pé em frente à cruz, como uma árvore flexível frente às tempestades do inverno.
Os jovens e as jovens que se deixam levar pela corrente da vida sem saber aonde vão, param hoje um instante para contemplar a Madalena lavando com suas lágrimas o sangue que mancha os pés do homem erguido entre a terra e o céu. Mas quando se cansam deste espetáculo, desviam os olhos e continuam seu caminho entre risadas.
Num dia como este, todos os anos, a humanidade acorda com o despertar da primavera e chora pelos sofrimentos de Cristo; mas depois, fecha os olhos e se entrega a um sono profundo.
A humanidade é uma mulher que se deleita em se lamentar sobre os heróis dos séculos. Se fosse homem, regozijar-se-ia pela sua grandeza e suas glórias.
A humanidade vê Jesus, o Nazareno, nascendo e vivendo como um pobre, ofendido como um fraco, crucificado como um criminoso, e chora-o e lamenta-o. E é tudo o que ela faz.
Há dezenove séculos, os homens adoram a fraqueza na pessoa de Jesus, conquanto Jesus fosse um forte. Mas eles não compreendem o sentido da verdadeira força.
Jesus não viveu como um covarde, e não morreu sofrendo e queixando-se. Viveu como um revolucionário, e foi crucificado como um rebelde, e morreu como um herói.
Não era Jesus um pássaro de asas partidas, mas uma tempestade violenta que quebra, com sua força, todas as asas tortas.
Jesus não veio do além do horizonte azul para fazer da dor o símbolo da vida, mas para fazer da vida o símbolo da verdade e da liberdade.
Jesus não receou seus perseguidores e não temeu seus inimigos e não sofreu nas mãos de seus executores, mas era livre à face de todos, audacioso para com a injustiça e a tirania.Quando via tumores pútrios, puncionava-os; quando encontrava hipocresia,esmagava-a.
Jesus não desceu do mundo da luz para destruir as nossas casas e, com suas pedras, construir conventos e ermitérios.
Ele não veio para tirar os homens fortes de suas ocupações e fazer deles monges e padres;mas veio para insuflar na atmosfera deste mundo uma alma nova e forte que destrói, até às fundações, os tronos elevados sobre os crânios, e que desmantela os palácios erguidos sobre os túmulos, e derruba os ídolos impostos aos espíritos fracos dos humildes.
Jesus não veio ensinar aos homens a elevar igrejas suntuosas ao lado de casebres miseráveis e de habitações frias e escuras, mas veio para fazer do coração do homem um templo e de sua alma um altar e de sua mente um sacerdote.
Eis o que Jesus, o Nazareno, fez, e eis os princípios que pregou e pelos quais se deixou voluntariamente crucificar.Se os homens fossem mais sábios, celebrariam a data de hoje com alegria e risos e canções de vitória e de triunfo.
E tu,gigante crucificado, que olhas do alto do Gólgota as caravanas dos séculos, que ouves o barulho dos povos, que compreendes os sonhos da eternidade, tu és, sobre tua cruz manchada de sangue, mais majestoso e mais soberbo que mil reis, com mil tronos e mil reinados.
E tu és, entre a agonia e a morte, mais poderoso e mais temível que mil generais, com mil exércitos e mil troféus.
Tu és , na tua melancolia, mais alegre que a primavera com suas flores. Tu és, nas tuas dores, mais sereno que os anjos em seu paraiso. Tu és, na mão dos carrascos, mais livre que a luz do sol.
A coroa de espinhos em tua cabeça é mais formosa e mais augusta que a coroa de Buhram, e o prego na palma de tua mão é mais imponente que o cetro de Muchtary. E as gotas de sangue que correm em teus pés são mais brilhantes que as jóias de Astarté.
Perdoa, pois, a esses fracos que se lamentam sobre ti, em vez de se lamentarem sobre si mesmos; perdoa-lhes porque não sabem que venceste a morte pela morte, e deste vida aos que estão nos túmulos.


-Gibran Khalil Gibran , do Livro “As mais Belas Páginas da Literatura Árabe” – Tradução de Mansour Challita-

segunda-feira, 26 de março de 2012

UMA LIÇÃO PARA POUCOS

“Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo.”
                                                                                                      -Mahatma Gandhi-
Dizem que nem sempre determinadas questões tem a solução nas respostas e sim nas perguntas. Até porque, certas respostas não conseguem nos convencer sobre o que surge diante de nossos olhos, todos os dias, em todas as partes.
Por mais que pensemos na possibilidade de ficar parado, de se entregar a uma forma estática diante ao cansaço do dia a dia, lá fundo temos a plena convicção de que nada no Universo para e por mais que nos deitemos e nos entreguemos à profundidade do sono, nosso organismo segue ativo em todas as suas funções.
Mesmo assim, perante o sono restaurador e aos sonhos e suas nuanças, sabemos que em cada hemisfério a vida palpita com fervor e muitas vezes tais ações impressionam pela audácia de certas pessoas.
Evidente que na medida em que o tempo avança e o mundo evolui, pelo menos em algumas partes, em outras acabamos deparando com tradições antigas que ferem todos os conceitos a respeito da vida.
 Me pego então, depois de uma indisposição gastrointestinal, completamente enfraquecido, me sentindo como uma autêntica marionete. A vida é uma constante luta, a cada segundo, a cada palpitar do coração, a cada movimento das células e todas as nossas funções. O organismo se agita e lá dentro, poderosos exércitos se enfileiram para combater o inimigo. A ajuda externa sempre é benvinda, com medicação caseira ou não. O fato é que a recuperação, ainda que lenta, nos transporta à salutar vontade de viver, de seguir em frente, de realizar, de incentivar, de até mesmo participar de campanhas, de protestar sobre questões diversas mas sem perder a compostura ou ultrapassar limites.
Por que faço este tipo de referência? Porque de repente, neste regresso da dor, da pequena febre que produz suas miragens deparo com a assustadora cena de um homem em chamas. Não é cinema, não é fantasia! Realidade pura através de uma antiga tradição tibetana e talvez de outros povos mais próximos de lá que levam indivíduos a atear fogo no próprio corpo para protestar, como aconteceu na Índia em função da visita do presidente da China. Várias autoimolações de manifestantes já aconteceram e outras devem vir na sequência.

As respostas, sejam quais forem, nos levam a repensar o mundo em que vivemos.
Talvez por aqui, ainda que diante de tantas safadezas com o dinheiro público, onde alguns se apropriam dos recursos que poderiam melhorar a saúde, a segurança e a educação, estejamos, apesar de pesares, numa condição quase paradisíaca.
Lá, distante, o mundo parece um formigueiro em constante revolta, com protestos grotescos, suicidas que desejam se tornar mártires, poderosos que pisoteiam povos e outros que desejam ameaçar o mundo com suas possíveis bombas.
O mundo não para de crescer e quando nos lembramos que já somos sete bilhões de humanos chega a dar um frio na espinha, porque em toda parte, praticamente todos os dias, surgem loucos disparando suas armas contra inocentes, surgem malucos explodindo carros-bomba e de repente, surgem ativistas em chamas provocando um tipo de horror que, se á primeira vista nos assusta, em seguida nos incita a ter pena e a pedir a Deus que os perdoe.
Lembremos, em qualquer lugar do planeta, que Mahatma Gandhi libertou seu povo das mãos dos opressores sem pegar uma arma e, até onde sei, sem que alguém protestasse de maneira tão radical. O Grande Alma apenas sensibilizava o mundo com seus quase intermináveis jejuns. Pelo visto, sua magnífica lição foi para poucos!...

sexta-feira, 23 de março de 2012

A POESIA DE RUMI

TU E EU

“Feliz o momento em que, estando sentados no palácio,
tu e eu,
Com duas formas e dois rostos, mas uma só alma, tu e eu.
As cores do bosque e as vozes dos pássaros concederão a imortalidade.
No momento em que entramos no jardim, tu e eu!
As estrelas do céu virão nos olhar:
Nós lhes mostraremos a lua, tu e eu.
Tu e eu, liberados de nós mesmos, estaremos unidos no êxtase,
Felizes e sem vãs palavras, tu e eu.
Os pássaros do céu terão o coração devorado de inveja,
Nesse lugar onde riremos tão alegremente, tu e eu!
Grande maravilha é que tu e eu, enovelados no mesmo ninho,
Encontramo-nos nesse instante, um no Iraque, e o outro em Khorassan, tu e eu."
- Jalal ud-Din Rumi (1207-1273) -

quinta-feira, 8 de março de 2012

A POESIA DE IVONETE SANTOS

SER MULHER...


É lutar pela vida com destreza                                   
Sem contar muito com a sorte
É encantar com sua beleza
Ser frágil, mas parecer forte

É amar sem medida
Ser singela como a flor
É ter o dom de gerar a vida
Ser menos razão e mais amor

É fazer mágica com o tempo
Dar na tristeza um nó
É viver cada momento
Ser várias, mesmo sendo uma só.

Ivonete Santos – 2004

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

STREET ART

quero ver seu sorriso  
simples e confiante
renascendo
até nos muros da cidade
vivo, amigo
brotando de verdade
exuberante,
anunciando a paz !
Clarice Villac
09.02.2012

imagem : Vinchen – Street Art Utopia
http://www.vinchen.com/
http://www.streetartutopia.com/wp-content/uploads/2011/04/street_art_mars_3.jpeg

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ALÉM DA OBRIGAÇÃO

Um homem foi chamado à praia para pintar um barco.
Trouxe tinta e pincéis e começou a pintar o barco de um vermelho brilhante, como fora contratado para fazer.
Enquanto pintava, notou que a tinta estava passando pelo fundo do barco.
Procurou e descobriu que a causa do vazamento era um buraco e o consertou.
Quando terminou a pintura, recebeu seu dinheiro e se foi.
No dia seguinte, o proprietário do barco procurou o pintor e lhe entregou um cheque de grande valor.
O pintor ficou surpreso e falou: “O senhor já me pagou pela pintura do barco.”
“Mas isto não é pelo trabalho de pintura”, falou o homem. “É por ter consertado o vazamento do barco.”
“Foi um serviço tão pequeno que não quis cobrar”, acrescentou o pintor. “Certamente o senhor não está me pagando uma quantia tão alta por algo tão insignificante!”
“Meu caro amigo, você não compreendeu”, disse o proprietário do barco. “Deixe-me contar-lhe o que aconteceu.
Quando pedi a você que pintasse o barco, esqueci de mencionar o vazamento.
Quando o barco secou, meus filhos o pegaram e saíram para uma pescaria.
Eu não estava em casa naquele momento.
Quando voltei e notei que haviam saído com o barco, fiquei desesperado, pois me lembrei que o barco tinha um furo.
Grandes foram meu alívio e minha alegria quando os vi retornando, sãos e salvos.
Então, examinei o barco e constatei que você o havia consertado. Percebe, agora, o que fez?
Salvou a vida de meus filhos!
Não tenho dinheiro suficiente para lhe pagar pela sua ‘pequena’ boa ação…"

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O PENSAMENTO DE ERNEST HEMINGWAY

“Há certas coisas que não se aprendem rapidamente e pelas quais temos de pagar caro com a nossa única moeda - tempo. São as coisas mais simples, e porque um homem leva a vida inteira para as aprender, o pouco que cada homem tira da vida é muito caro e é a única herança que tem para deixar.”
-Ernest Hemingway-

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

SONHOS

Há quem diga que todas as noites são sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,

só as de verão.
No fundo isso não tem importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.

-William Shakespeare-