quinta-feira, 12 de março de 2015

PÉ DE MEIA

Estáticas caixas e seus coloridos segredos. 
Solidão anual num canto escuro qualquer! 
Sótão! A falta de espaço exige! 
Parece até que foi ontem. Caixas abertas, cores ganhando vida outra vez. 
A árvore, as bolinhas e demais arranjos e o sorriso no rosto das crianças. Expectativa de presentes ou da presença do bom velhinho. 
Árvore armada, festa sentenciada e tudo já no esquecimento... 

Espírito natalino e suas festas que quase são intangíveis perante nossa pressa. 
E vem aquela antiga pergunta sem uma resposta definida: 
Para onde vamos com tanta pressa? O Natal se foi, aquelas caixas repousam no escuro outra vez e já se sente no ar aquele estranho aroma de chocolate. 
Coelhinhos tomam a cena, saídos de suas tocas e ovos de todos os tamanhos exaltam suas cores nos mercados da vida. Logo, esses dentuços todos voltam também para seus exílios anuais e nós, correndo atrás do tempo, às vezes abrimos a caixa do correio, aquela física na frente de casa para ver que surpresas a próxima fatura do cartão apresenta. 
Espíritos santificados em torno de festas e celebrações comerciais. 
Criação, produção, propaganda, compra, venda e pagamentos... 
Escravizam-se uns aos outros no que chamam de “luta pela vida”, quando a vida é livre por direito e não pode se desenrolar num campo de batalhas.
Passeamos em torno do Sol em 365 dias e quatro estações distintas. Comemoramos as datas especiais, abrimos os braços para quem chega, apertamos o coração aos que partem e seguimos com nossas dúvidas estrada à fora. 

Nossos segredos, nossos encontros, nossas ações, nossas conversas a toa, nossas rusgas e intrigas e nossas esperanças estão lá, guardadas naquelas caixas misteriosas, locadas por aranhas folgadas até o dia em que nelas se faz luz outra vez. 
Ao abri-las, tudo escapa! 
Recordamos por momentos do Natal ou da Páscoa passada, mas o velho, o antigo não mais interessa. Tem bolinhas diferentes à venda, tem coelhinhos mais vistosos enfim... 
Só uma coisa não tem: A presença de quem partiu, o sorriso de um dia já distante e a certeza de que se vai ancorar num porto realmente seguro. 
De incertezas é feita a vida. Decerto; o mais certo é viver com simplicidade, valorizar o “pé de meia” que se tem e abrir os olhos para ver o quanto de pessoas estão aquém do que nós somos e outro tanto que está além do que podemos ser. Pense nisto!