sábado, 29 de maio de 2010

LIRA DOS SETENTA

“...mas agora, nesta primeira grande ruptura de minha maturidade, sinto que os limites de minha arte e de minha vida se aprofundam imensamente com essas lembranças. Como se fossem reconstruídas em pensamento”
(Justine – 1º vol de “O Quarteto de Alexandria” – Laurence Durrel).
LIRA DOS SETENTA
-Rita de Cássia de Amorim Andrade- Ao longo desta vida as velhas lembranças são como velhas histórias contadas por velhos sábios, tão distantes de mim estão! Das mais recentes, são as rupturas as que mais me comovem. A morte de ALONSO: às vezes, a mente se confunde, e penso que ele estará de volta a qualquer momento. Depois, a mente se aclara e o sonho se desfaz. E a ruptura dos vivos? Quem se foi sem dar adeus? Alguém, talvez, que teve medo de dizer “adeus”? Existe alguém que se esqueceu de dizer adeus? Todos os amigos estão por perto? Não falta ninguém? Nem sempre a ausência de um amigo significa ausência de amizade. Digo “amigos”, porque são partes de mim própria. São células, quase sempre sadias, que se desprendem do meu corpo pela força do destino. Retornar-se-iam? Não sei, mas são pedaços de minha história. São os de corpo e espírito, Vivos ou mortos. E os parentes próximos e menos próximos? Estão correndo pelo meu sangue, não têm como escapar, não os deixo escapar. É também difícil deixar escapar os amigos não consanguíneos. Tenho um prana rente a minha pele, que teima em mantê-los dentro dessa atmosfera individual, como os corpos terrestres, cuja camada atmosférica não nos deixa cair no vazio do espaço. Assim, segue o meu tempo de humana, até quando, não sei. Como esses 70 anos são de uma vida bem vivida, tenho que celebrar com champanhe e velas perfumadas. Levantar a taça aos que estão próximos e aos que estão distantes. Teresina, 02 de dezembro de 2009

quarta-feira, 26 de maio de 2010

QUANDO ENVELHECER VOU USAR PÚRPURA

AVISO - Jenny Joseph - * Escritora inglesa nascida em Birminghan em 07 de maio de 1932 Quando envelhecer vou usar púrpura com chapéu vermelho, que não combina nem fica bem em mim. Vou gastar a pensão em uísque e luvas de verão e sandálias de cetim - e dizer que não temos dinheiro para a manteiga. Vou sentar na calçada quando me cansar e devorar as ofertas do supermercado, tocar as campainhas e passar a bengala nas grades das praças e compensar toda a sobriedade da minha juventude. Vou andar na chuva de chinelos, apanhar flores no jardim dos outros e aprender a cuspir. A gente pode usar camisas horríveis e engordar, comer um quilo de salsichas de uma vez ou só pão com picles a semana inteira e juntar canetas e lápis e bolachas de cerveja e coisas em caixinhas. Mas agora temos que usar roupas que nos deixem secos, pagar aluguel, não dizer palavrão na rua e ser bom exemplo para as crianças. Temos de ler o jornal e convidar amigos para jantar. Mas quem sabe eu devia treinar um pouco agora? Assim os outros não vão ficar chocados demais quando de repente eu for velha e usar vestido púrpura.

A VELOCIDADE DE ALMA

Um viajante, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores nativos andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os nativos não se moviam. Quando, finalmente, o viajante pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: "Andamos muito depressa e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem". Nota: Pura sim, a alma que legou o texto. Pena que a autoria esteja completamente desconhecida. Mas se você porventura souber quem foi o autor, por favor, me informe.