quinta-feira, 18 de junho de 2020

PEGA NA MENTIRA E COLA UMA VERDADE CHINESA

Era para ter postado ontem, mas os palitos de fósforos não resistiram à pressão do sono. Então... é textão, mas se você tem um tempinho, fico grato! 

 Pense numa quarta-feira repleta de afazeres como há meses não acontecia. Longe da outra casa há mais de dois meses, eis-me aqui neste cantinho diante do computador mandando ver nas tarefas à distância e vez ou outra dando uma deslizada por estas redes sociais que andam parecendo um daqueles vidros grandes de picles onde a gente encontra todos os sabores. Uns mais suaves e outros quase intragáveis como aquela pimenta dedo de moça que conseguiu se juntar à turma. Bem; fazia tempinho que seis e meia da manhã não me pegava pulando da cama e neste dia tive que ceder aos caprichos do relógio e iniciar o dia como manda o figurino antigo. Foi uma manhã agitada porque de repente, ainda que eu não necessite de tamanho sacrifício, tenho gente na família que num estalar de dedos precisaram se deslocar aos seus locais de trabalho. Então dei uma de Uber-Familia e fui de um lado para outro numa conexão entre São José dos Pinhais – Pinhais – Curitiba e de volta à São José devidamente mascarado no melhor estilo daquele zorro cavaleiro cortando distâncias em seu poderoso Silver. E as horas se esvaíram como as areias da ampulheta e eu, de volta ao aconchego só tive tempo de tomar um fôlego e partir para as atividades de praxe. Mesmo à distância, o prazer de se fazer o que se gosta é maravilhoso. Mas devo confessar que nestes deslizes pelo facebook ouvindo o saudoso Emílio Santiago dei uma pausa para divagar sobre as coisas que nos cercam, as pessoas que nos cercam, suas ideias, seus ideais e de outra facção, infelizmente, sua indomável ignorância. De repente me peguei olhando o vazio como se fosse um espelho animado me mostrando toda a trajetória que já fiz, a quantidade de livros que já li e sigo lendo, as canções e artistas tão bem selecionados, o convívio com gente bem à frente do meu conhecimento e com quem tive a honra de aprender. Foram muitos esses degraus para que eu pudesse ter a chance de olhar as nuvens por cima, com aqueles raios do sol infiltrando-se e promovendo um colorido fascinante e divino. Então voltei a escorregar as postagens do face e fui vendo de soslaio coisas como o “fim do mundo” anunciado pelo calendário Maia e já programado para a semana que vem. Acho que diante ao exposto vou ter que fazer o que nunca fiz: tomar um porre literalmente. Depois não me contive perante o “pesadelo do Covid” que segue aniquilando sonhos de norte a sul diante da indiferença de tanta gente. Já nem adentro aos alertas, porque quando faço isto já me sinto como placa de trânsito à beira de rodovia alertando para o limite de velocidade e, no entanto, a maioria aperta o pé para ver a roleta da sorte escolher uma nova vítima. 


E se o trânsito é uma guerra famigerada, imaginem a guerra biológica que muitos insistem em exaltar neste momento em ninguém mais sabe ao certo como conter o vírus e pior; como conter a volúpia de humanos dispostos a tudo para encarar um shopping ou uma festa de arromba. Mas em meio a isso tudo a gente descobre coisas deliciosas que os outros preparam em casa, como uma torta de matar a gente afogado ou aquelas rosquinhas da Jujú sapecadas em açúcar que bem convidam àquele café com leite. Ah! As rosquinhas da Jujú... E as mentiras então? Tem tanta mentira por ali que se o Pinóquio tivesse a chance de acessar por certo que seu nariz iria daqui até os confins da Ásia. Eu nem vou relacionar as mentiras e nem tampouco os mentirosos que as espalham e que nelas acreditam com unhas e dentes. O que me surpreende é ver onde as pessoas conseguiram chegar a bordo desse gigantesco trem fantasma que lhes permite, me parece, fazer de tudo para destruir os sonhos daqueles que acreditam em um mundo melhor. Fico pasmo perante tanta gente odiosa, mal amada, recalcada, prepotente, racista, homofóbica e muitos destes, para deixar o quadro borrado de vez, com requintes de fascismo escancarado. Lembrei-me do Erasmo Carlos cantando lá no passado aquela canção “Pega Na Mentira” lançada em 1981 e que apesar da sátira era sim um esboço dessa coisa que vivemos hoje. Alguém inventa uma mentira e um batalhão de tapados acredita e passa adiante. Daí a calamidade cultural, social e política. E agora, chegando o cuco nas 23 horas eu continuo aqui com raros palitos de fósforos tentando segurar as pálpebras para enganar o sono e o cansaço. Mas querem mesmo saber? Hoje fiz apenas um turismo “the flash” pelas redes e concluo que realmente estamos, aqueles que tentam edificar uma vida concreta”, falando uns para os outros o que todos entre si bem sabem. Porque o resto não está nem ai para verdades que podem ajudar a melhorar o jeito de viver, de subir os degraus da existência, de requisitar através do conhecimento os direitos que todos temos e que hoje são pisoteados como baratas tontas. Daqui a pouco é quinta-feira outra vez e certamente que nos telejornais vão mostrar a China, de onde o vírus tomou o rumo mundial e muitos seguirão caindo de pau nos chineses porque comem morcego, escorpião, cobra, rato e os cambaus. Triste ignorância da nossa gente aqui que nunca se embrenhou pela real história do povo chinês num passado onde um cidadão considerado rico era o que tinha em casa uma simples garrafa térmica. Mas isto não importa porque a maioria dessa gente compra tudo que lá produzem por uma tal de Wish e se deliciam com as novidades tão práticas como uma banheira que você, depois do banho pode desmontar, comprimir e acredite, guardar numa gaveta. Fico aqui então com a “Verdade Chinesa” na voz do grande Emílio Santiago de onde trago pra você este pedacinho que é a mais pura verdade: “Senta, se acomoda, à vontade, tá em casa Toma um copo, dá um tempo, que a tristeza vai passar Deixa, pra amanhã tem muito tempo O que vale é o sentimento E o amor que a gente tem no coração” – Se conhecer a canção já sabe a letra, se não conhece; por favor, vá ao youtube e curta o clipe. Além da música e do talento que Emílio Santiago tinha você vai comprovar o quanto detínhamos de majestoso em nossa arte e em nossa cultura. Porque o resto, é doce ilusão, é mentira escandalosa. (Pedro Brasil Jr – em 17/06/2020)

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