terça-feira, 14 de abril de 2009

CÚMPLICES

Fixei meus olhos na folha branca de papel.
Branca e pura!
Clamei por palavras...mas nenhuma me ouviu!
Gritei por versos simples!
E permaneci enroscado em invisíveis estrofes.
Que fazer? Perguntei-me...
Respirei fundo, olhei pela fresta da janela... Só havia as luzes das ruas rabiscando a escuridão. Mas havia o silêncio...tão profundo que, quase o toquei!
Então acendi um cigarro e fiquei contemplando argolas de fumaça.
Uma por uma foram subindo em direção à lâmpada, juntando-se em interessantes elos. Dissipando-se depois da idéia... Idéia! Finalmente uma! E crivei dois pontinhos naquela folha, agora, já não tão pura assim.
Opostos naquele retângulo ficaram como eu, esperando por alguma coisa.
Então, os liguei, lembrando daqueles exercícios de ligar pontos. Não vi figura alguma!
Mas ... não é que inventei uma linha? Justo eu que nada entendo de geometria?
Bem; agora que já tinha uma linha, podia inventar qualquer palavra, qualquer frase, qualquer estória...
Agora, palavra inventada, éramos, a folha alva, a escuridão e o silêncio, cúmplices de uma emoção: acabara de nascer mais uma parte do meu ser !
(Pedro Brasil Júnior)
*Publicado originalmente na Usina de Letras -

Um comentário:

joesio disse...

Se existem textos "perfeitos", esse, cuja cumplicidade entre o escritor, "a folha alva, o silêncio e a escuridão" provoca emoções, está acima da perfeição.
Parabéns, poeta!...