terça-feira, 20 de setembro de 2011

MINHAS ANDANÇAS - PEQUENAS NOTAS ANTIGAS

Cada vez mais estamos envolvidos por um mundo barulhento!
Nas ruas são as buzinas, as sirenes, o ronco dos motores.
Em casa, temos o rádio, a televisão e a Internet.
Vivemos conectados à tecnologia praticamente a maioria das horas que nos cercam. Desligamos um pouco pela necessidade do sono reparador, mas muita gente já dorme cada vez menos e o que poderia ser um simples problema do sono, já se transformou num alarmante caso de saúde pública mundial.
Sendo assim e diante de tantos sons da modernidade, já deixamos de ouvir outras notas há muitos anos.
As gerações mais recentes talvez nunca as tenham escutado, mas nós, mais antigos, sabemos o quanto era primordial em nossas andanças de outrora.
Eu particularmente recordo de um carrilhão demarcando as horas redondas no silêncio da noite. Um senhorio poderoso chamado tempo!
Também relembro no raiar dos dias e nas horas principais do canto do galo. Mas quem precisa de um galo para saber que já são três da tarde e é hora de tomar café?
Os galos viraram canja!
Quem ouve hoje em dia numa cidade grande o badalar de um sino?
Eles estão por certo na torre das igrejas, silenciosos e esquecidos.
E o apito de um trem distante? Quantos hoje já viajaram de trem singrando campos e montanhas.
Às vezes no silêncio da noite ouço o palpitar do meu relógio de parede, simples, mas com ponteiros movidos a uma bateria.
Noutras ocasiões ainda escuto bem distante o apito de um trêm e minha alma faz sua magistral viagem. Ela sempre regressa com palavras novas para dissertar sobre o antigo.
E acreditem; às vezes tenho a sorte de escutar o canto de um galo sortudo, dono do quintal e da magia de suas notas.
A modernidade transformou a sonoridade da vida da mesma maneira que aniquilou com tantas coisas que, para nós, mais antigos, era o que havia de melhor para facilitar a vida.
Não! Não quero que o tempo pare e nem que o progresso siga aniquilando com o romantismo.
Quero apenas que o palpitar dos relógios antigos possa ainda ser ouvido por muito tempo, que os galos sortudos soltem seu brado e que os trens possam singrar tantas paisagens levando cargas e gente esperançosa.
A vida é feita de invenções e tendências e eu tenho certeza de que muita gente lembrará agora de uma antiga caixinha de música com sua bailarina a fazer evoluções ou então, daquele radinho de pilha que era o companheiro ideal de tantos, por tantas horas do dia. 
Sim! A vida é feita de valores, tanto antigos quanto modernos e é por isto que recordo também de um relógio cuco que tínhamos em nossa casa, todo trabalhado em entalhes onde esculturas de pássaros se sobressaiam. Os pêndulos que davam corda e faziam as engrenagens trabalharem e aqueles dois passarinhos miúdos que por alguns anos nos fizeram acordar nas madrugadas com seus registros de horas puramente vazias. 
Mas lá fora, nas distâncias ainda tão curtas, o galo cantará às seis da manhã, o sino da igreja batera as sete e na estação, o apito do trem por certo anunciará sua partida para uma incrível jornada entre as paisagens já então transformadas.


Curitiba- 24/agosto/2011

Um comentário:

Asas da Ilusão disse...

Viajei direto pela minha infância neste texto. Muito bom!O importante é não nos distanciarmos do nosso relógio biológico...aquele... que segue o ritmo do coraçao! abs