DESEJOS -Pedro Brasil Jr -
Os instantes estão cada vez mais distantes
Inquietantes esses ponteiros do relógio
De sobressalto recordo que o tempo existe!O silêncio é pura intensidadeE com ele toda minha verdade afloraComo talos de flor-de-ipê, Que silenciosas nascem e a gente nem vêA noite brilha lá fora com seu lençol de estrelasE minha memória recupera instantes de outroraDoce aurora com o Sol imponente
Afinal, cada dia tem seu próprio esplendorMinha dor eram dores
Que de um plural as tornei tão singularE eis-me aqui, agora, ouvindo meu próprio coração
Tento lembrar de você, que jamais conheci
Estranho?Estranho sou eu, invadindo o sonho teuNão importa! De todo modo, abri a porta do tempoE com o vento me fui ao teu encontroEm algum horizonte perdidoSeus lençóis azuis amarrotados
Suas vestes lilás de qualquer jeito
A profundidade do teu sono perfeito
Estou aqui!E quem será você?Minha fabulosa estrela radianteMinha criação estonteanteDecido parar o tempo
Porque nesse instante eu posso.
Neste momento eu queroMeu desejo é tão simples
Tão puro e cristalino
Quase igual a água do meu riacho
Olho a maciez da tua peleUm convite para minha aventura
E vejo teus poros arrepiarUm toque sutil e maravilhosoUm aroma no ar
Teu perfume gostosoA razão se confunde com o sonhoEla sabe a que me proponho
E o tempo volta a palpitarDeixo-me pronto à entregaE me envolvo em todo o teu ser
Com pinceladas de um grande artista
Cada milímetro de vocêPassando por minhas mãosCada segundo do que sou
Se envolvendo na tua magiaInstantes são assimFiguras em silhuetasSugerindo apenas o que se querMomentos são assim tambémIrrigando a alma com desejos que convemE minha vida segue ao léu
Com teus olhos com um céu
Com teu corpo feito planetaCom meu desejo impresso em meus gametas.
Quem é mesmo você?
CANÇÃO- Cecília Meireles -
No desequilíbrio dos mares,as proas giram sozinhas...Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rostoQuando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.
Elementos equidistantes raramente se unem. Se bem que apesar disso, nós, na maioria das vezes conseguimos "teimar" em nos unir ao oposto, só porque alguém um dia disse "que os opostos se atraem".Mas aqui, o mundo é poesia, da poesia e para a poesia. A poesia é o caminho e o poeta o caminhante aventureiro, aquele que enxerga com o coração, que vai direto à essência de tudo o que é essencial e puro para a vida. Não dessa vida tão cheia de dissabores e de tantas coisas erradas.Mas daquela vida simples, que o poeta cria dentro de sí como a ostra, ferida ou irritada, cria sua magnífica pérola.Assim, em razão dessa "teimosia", Clarice Villac conseguiu unir duas coisas extremamente opostas em cena inimaginável. Nasceu "Pérola-Butiá", mais que uma poesia, uma verdade que transforma o fruto numa jóia rara, tão rara quanto o coração da poetisa e tão sugestiva quanto a foto da sensível Maria deFátima Barreto Michels afinal, o fotógrafo é, por conta de sua observação, o grande poeta das cenas, das imagens, do flagrante que será eternamente único como única é a alma de quem conhece os misteriosos caminhos da existência. Pra vocês, a seguir, "Pérola-Butiá", a poesia da Clarice Villac com um toque todo especial. (P.B.J)Pérola Butiá- Clarice Villac -
Vem de mãos caprichosas
A toalha de crochê, delicada.Na mesa da artista criativaEncontra a concha perfeita,
Antiga morada de um bichinho feliz
Que agora, depois de muito viajar,Acolhe o pequeno butiáPra brincar de fruto do mar !
- 01/04/2010-