sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O CAÇADOR DE BORBOLETAS

O relógio tem o poder de dividir os dias em horas, mas felizmente, este senhor absoluto de nossas vidas não pode realmente encarar a força e o poder do tempo. Ao nosso redor, as horas se esvaem como as areias de uma ampulheta e nós, atribuímos aos nossos inventos toda a precisão possível. A seu modo, no entanto, a natureza segue silenciosa em sua eterna oração aos céus e enquanto isto, o tempo carrega suas ferramentas mais preciosas e a tudo transforma com um talento invejável. Para não criar confusões, ele, o tempo, definiu suas atribuições em quatro estações apenas, onde sua passagem e sua parada é sempre marcante e recheada de mistérios que a maioria dos homens desconhece. Tudo o tempo todo ao nosso redor está em constante movimento e sincronia, mesmo que nós, através de nossa racionalidade, deixemos de perceber. Nós mesmos estamos a cada segundo celebrando transformações interiores significativas e a maioria delas acontece sem que nada possamos sentir de fato e de direito. Ouvi alguém dizer não faz tanto tempo, que “envelhecer é obrigatório, crescer é opcional”. Confesso que fiquei constrangido diante de uma frase tão pequena, mas cujo alcance ultrapassa as mais longínquas distâncias da nossa pequena Via Láctea. Não a menosprezo quando lhe digo “pequena”, afinal de contas, o Universo é tão grande que realmente não podemos contestar a maior de todas as verdades: nós somos, cada um, um ínfimo grão de areia dentro desse incomparável conjunto criado por uma essência maior, cuja sabedoria lhe permitiu oferecer tantas maravilhas. Para cuidar disso tudo, nomeou o Tempo como seu fiel capataz e este, implacável, segue, sabem-se lá a quantos milhões de anos, cumprindo a sua grandiosa missão de transformar tudo e todos e dessa maneira, prover de novidades todas as estações por onde obrigatoriamente passa a cada período específico. Seus feitos e exemplos podem ser observados de várias maneiras, através de todas as ciências, de todas as religiões, de todos os olhares que, por alguma razão percebem “o diferente” ao redor. Talvez o maior exemplo da transformação seja a borboleta, um ser tão frágil e gracioso cujas cores impressionam nosso olhar e cuja sutileza encanta qualquer jardim, em qualquer lugar do mundo. A lagarta ordinária move-se lentamente por entre as ramagens, sofrida, ameaçada e completamente imperceptível. Sua vida é rastejar humilde e comer folhas o tempo todo. Ela lembra muitos homens que um dia foram “lagartas” e que depois, com muita força de vontade conseguiram ganhar asas e dar seus altos vôos. A lagarta cria o seu casulo e se isola nesta solidão implacável e duvidosa, porém, dentro de um tempo específico, ei-la saindo, desabrochando como a flor mais bela e ruflando suas asas coloridas por entre a paisagem. Seu destino: as flores, o néctar, a prontidão de ser agora alguém diferente e que a todos os olhares desperta atenção. O tempo, este artista sorrateiro nos reservou a borboleta para demonstrar o quanto devemos ser gratos pelo que somos, pelo que temos e pelo que podemos fazer para ajudar os outros. Da mesma maneira, através da borboleta, ele nos indica que o Criador nos proveu sim, de uma alma, de um espírito, capaz de promover mudanças em si próprios e a isto, da-se o nome de evolução. Podemos evoluir todo o tempo também, através de nossas atitudes mais simples, através do nosso olhar mais puro e tênue, admirando o que nos cerca e nos dignifica neste majestoso planeta Terra. Outrora, os objetos de coleções eram raros. Refiro-me a uma época muito distante e imagino que naquele tempo, as borboletas eram um desses focos, quando muitos saiam à sua caça para deter espécies diferentes, cruelmente espetadas por um tipo qualquer de alfinete numa madeira leve talvez. A prática durou muito e é provável que ainda hoje existam esses indivíduos insensíveis, que as capturam sem uma razão que vá além do capitalismo. Certa ocasião conheci um homem que tinha, em seu escritório, dois quadros repletos de borboletas de todos os tipos, tamanhos e cores e ele se orgulhava por aquilo. Nesta época, eu ainda dava meus primeiros passos no jornalismo filatélico e foi quando descrevi a ele tudo o que até então eu sabia sobre filatelia e é claro, aproveitei para aguçar o seu desejo através dos selos postais que retratavam borboletas. Nossa conversa repetiu-se, porque ele sentiu que havia cometido vários atos indevidos e tirado dessa maneira a oportunidade daqueles seres alados continuarem a enfeitar a paisagem. Deu um fim em seus quadros de borboletas e em seus apetrechos usados para caçá-las. Soube que as espécies eles doou para um instituto de pesquisas e depois disso, trocou os quadros por brilhantes álbuns de selos onde começou a colecionar todas as borboletas que já conhecia e tantas e tantas outras que nem imaginava existir. A filatelia temática adentrou em sua vida por algum tempo, pois infelizmente o homem, que já tinha idade avançada, acabou falecendo. Mas dentre os selos que tinha em seus dois álbuns, deixou algo escrito: “Passei grande parte da minha vida aniquilando sonhos coloridos. Eu não sabia como as borboletas nasciam. Eu achava que elas apareciam repentinamente. Agora que os selos me fizerem descobrir, agora que já é tão tarde, me permito logo, adentrar em meu casulo. E peço ao Criador que em minha próxima existência, não me dê asas. Que apenas me oferte a oportunidade de voltar com total consciência a respeito de todas as belezas que me cercam e que, portanto, fazem parte da minha própria existência”. - PEDRO BRASIL JUNIOR - Publicado originalmente na Usina de Letras - www.usinadeletras.com.br São José dos Pinhais, 02 de outubro de 2009 – 01h15min

2 comentários:

Unknown disse...

Olá Pedro,
Quem diria que nesse dia 02 de outubro, você postaria este texto que após 12 dias, seria um espelho da sua vida.
Borboleta....
Foi mais ou menos o ocorido.
Hoje, pode- se dizer que tu nasceste novamente ou então que acabara de sair do "casulo" para novos voos.
Pai é muito bom ter voce aqui, conosco.
Desejo a ti tudo de melhor,e que Deus te ilumine sempre.
Como voce mesmo disse, sua missão aqui não terminou...
Te adoro, e quero ainda aproveitar muito de ti..
Isabella Brasil.

julia guiran disse...

oi, James Bond, kbom q foi só um susto, (ó my god!)e q serviu p refletir sobre as borboletas e suas transformações.Belo texto, apesar q poderia agora, escrever sobre os peixes. rsrs glub glub glub
é Pedrão, sua missão impossível, graças a Deus, poderá se tornar possível...bem vindo a terra!melhor singrar pelos ares, né, não!?amei a musica muito obrigada...romanticaaaa hum! bjuss