Quando se é escritor, ainda que por presunção, a gente comete alguns erros que são, na verdade, motivados pela inspiração daquele momento mágico, tão único quanto ao instante em que se tira uma foto por ai.
O primeiro deles é a
gramática, que a gente pisoteia para desespero daqueles que a levam com uma
seriedade sem limites. Mas para este erro há sempre a possibilidade de todas as
devidas correções e ajustes. Já para o outro, não temos como dar uma mexidinha,
porque muitas vezes se fazem necessários. São as repetitividades de cenas ou
causos já relatados em outra crônica ou outro conto. Em sendo assim, é verdade
que num dia qualquer e bem distante eu já tenha falado sobre a maravilha dos Ipês
Amarelos cujos tapetes de suas flores enfeitam muitas calçadas pela cidade. Mas
outrora esses tapetes eram em maior quantidade e, portanto, muito mais
marcantes.
Hoje, último dia do inverno
desse 2020 que foi e segue sendo um ano gelado, porque todos nós entramos numa
fria digna de pinguins, deparo com um comentário curtinho de uma amiga de longa
data, a Célia Cesar que lá elogiou uma postagem
que fiz sobre o Dia da Árvore e onde ela diz : “ Não sei o que dizer...
Só sei que esta chegando a temporada dos Ipês e eu me lembro de você”.
E os Ipês Amarelos? Ah! Que
árvores majestosas que simbolizam a nossa terra, nos dão a sombra, o colorido,
mas não oferecem frutos. Pelo menos “não” na categoria do palpável e comestivo,
trazendo o sublime néctar do coração da terra. Mas seus frutos vão além-alma e
nos levam por uma espécie de jovialidade, um tipo de fonte da juventude que
banha nosso olhar com o amarelo das flores e o verde de suas folhas. E então,
esses “frutos” tão estranhos abrem o coração da gente e levam até ele a
essência mais pura que ajuda a gente a ter inspiração de escriba, força de
vontade de professor, carisma de apresentador de rádio ou televisão, preceitos
de pura fé em religiosos de todas as ordens e a pureza tão singela de toda e
qualquer criança que chega a este mundo apenas para viver. Eles chegam à
estação da vida sem falar nada, sem pensar nada, sem empunhar bandeiras
ideológicas, sem torcer para este ou aquele time, sem dar importância à raça, à
religião ou a preferência sexual dos outros. Simplesmente nascem e chegam como
a argila que se retira da barranca de um rio. O que os outros farão com ela é o
que importa. Como vão moldar as pequenas e inocentes almas é que influenciará
nos destinos do mundo.
Mas os Ipês Amarelos
seguirão florindo a cada Primavera, estendendo seu tapete vistoso aos
transeuntes, despertando olhares de paixão e escrevendo ali mesmo uma poesia
que fala de amor, de transformação e que inclui até gente carrancuda que reclama
que a arvore faz muita sujeira porque derruba aquelas flores todas e depois
aquelas folhas todas até ficar peladinha. Então está ai mais um segredo dos
Ipês que tanto amo. Aquelas árvores com nome masculino são dotadas de uma
feminilidade tão incrível que nos proporcionam desfiles de cores e depois
ensaios fotográficos de uma nudez que inspira acreditar que a alma da gente é
bem assim; primeiro espalha cores de todas as nuanças e mais tarde se desnuda
para nos mostrar a evolução. Mas claro; como não pensei nisso antes? Os Ipês
Amarelos são borboletas com raízes que incitam a gente a fazer como a lagarta.
Primeiro se rasteja, depois se mergulha num casulo e mais tarde se eclode em cores
para singrar os céus e provar o quanto a vida é bela e “maravilinda”, como
costuma dizer a amiga Célia a quem é claro, agradeço por ter sido hoje, motivadora
dessa rápida inspiração, mas lembrando que nada é por acaso e que a gente,
volta e meia dá um pulinho até o Altar para uma conversa com aquele “Cara” que é
extremamente radical, correto e grande protetor de cada passo que a gente dá
nesta caminhada por sobre os majestosos tapetes das flores do Ipê.
-Pedro Brasil Jr - 22/09/2020 -
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