sábado, 24 de abril de 2010
DESEJOS
DESEJOS
-Pedro Brasil Jr -
Os instantes estão cada vez mais distantes
Inquietantes esses ponteiros do relógio
De sobressalto recordo que o tempo existe!
O silêncio é pura intensidade
E com ele toda minha verdade aflora
Como talos de flor-de-ipê,
Que silenciosas nascem e a gente nem vê
A noite brilha lá fora com seu lençol de estrelas
E minha memória recupera instantes de outrora
Doce aurora com o Sol imponente
Afinal, cada dia tem seu próprio esplendor
Minha dor eram dores
Que de um plural as tornei tão singular
E eis-me aqui, agora, ouvindo meu próprio coração
Tento lembrar de você, que jamais conheci
Estranho?
Estranho sou eu, invadindo o sonho teu
Não importa! De todo modo, abri a porta do tempo
E com o vento me fui ao teu encontro
Em algum horizonte perdido
Seus lençóis azuis amarrotados
Suas vestes lilás de qualquer jeito
A profundidade do teu sono perfeito
Estou aqui!
E quem será você?
Minha fabulosa estrela radiante
Minha criação estonteante
Decido parar o tempo
Porque nesse instante eu posso.
Neste momento eu quero
Meu desejo é tão simples
Tão puro e cristalino
Quase igual a água do meu riacho
Olho a maciez da tua pele
Um convite para minha aventura
E vejo teus poros arrepiar
Um toque sutil e maravilhoso
Um aroma no ar
Teu perfume gostoso
A razão se confunde com o sonho
Ela sabe a que me proponho
E o tempo volta a palpitar
Deixo-me pronto à entrega
E me envolvo em todo o teu ser
Com pinceladas de um grande artista
Cada milímetro de você
Passando por minhas mãos
Cada segundo do que sou
Se envolvendo na tua magia
Instantes são assim
Figuras em silhuetas
Sugerindo apenas o que se quer
Momentos são assim também
Irrigando a alma com desejos que convem
E minha vida segue ao léu
Com teus olhos com um céu
Com teu corpo feito planeta
Com meu desejo impresso em meus gametas.
Quem é mesmo você?
quinta-feira, 22 de abril de 2010
LEMBRANDO CECÍLIA
CANÇÃO
- Cecília Meireles -
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
PÉROLA-BUTIÁ
Elementos equidistantes raramente se unem. Se bem que apesar disso, nós, na maioria das vezes conseguimos "teimar" em nos unir ao oposto, só porque alguém um dia disse "que os opostos se atraem". Mas aqui, o mundo é poesia, da poesia e para a poesia. A poesia é o caminho e o poeta o caminhante aventureiro, aquele que enxerga com o coração, que vai direto à essência de tudo o que é essencial e puro para a vida. Não dessa vida tão cheia de dissabores e de tantas coisas erradas.Mas daquela vida simples, que o poeta cria dentro de sí como a ostra, ferida ou irritada, cria sua magnífica pérola. Assim, em razão dessa "teimosia", Clarice Villac conseguiu unir duas coisas extremamente opostas em cena inimaginável. Nasceu "Pérola-Butiá", mais que uma poesia, uma verdade que transforma o fruto numa jóia rara, tão rara quanto o coração da poetisa e tão sugestiva quanto a foto da sensível Maria de Fátima Barreto Michels afinal, o fotógrafo é, por conta de sua observação, o grande poeta das cenas, das imagens, do flagrante que será eternamente único como única é a alma de quem conhece os misteriosos caminhos da existência. Pra vocês, a seguir, "Pérola-Butiá", a poesia da Clarice Villac com um toque todo especial. (P.B.J)
Pérola Butiá
- Clarice Villac -
Vem de mãos caprichosas
A toalha de crochê, delicada.
Na mesa da artista criativa
Encontra a concha perfeita,
Antiga morada de um bichinho feliz
Que agora, depois de muito viajar,
Acolhe o pequeno butiá
Pra brincar de fruto do mar !
- 01/04/2010-
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