Um dia, acidentalmente, esqueci um livro no balcão de uma lanchonete. Voltei ao local, mas o exemplar já havia partido com alguém. Bem; apesar da tristeza pela perda acabei, de certo modo contente por saber que alguém iria ler aquela obra. Ou talvez nem fosse ler, porque muita gente sabe “catar” coisas perdidas ou esquecidas para jogar em algum canto.
Os anos passaram, vieram outros livros, outras histórias e aventuras e grandes nomes da literatura que me ajudaram a aprender muito mais. Depois alguém inventou um interessante projeto do livro esquecido propositalmente, de maneira a incentivar a leitura. De alguma maneira o projeto até funcionou e deve ainda estar conquistando alguns leitores por ai.
Esses dias, depois de tanto tempo, decidi dar uma volta pelo centro de Curitiba com a pura visão de um turista, fotografando alguns lugares tão comuns de minha passagem ao longo dos anos e eis que de repente me deparo com a cena: um verdadeiro livro esquecido no banco da praça.
Não era um livro de papel em brochura e com capa grossa, colorida, chamativo a qualquer passante. Era um livro vivo, com incontáveis páginas repletas de passagens maravilhosas, tristes, angustiantes, sofridas, saudosistas e por ai afora...
Lá estava naquele meio de tarde o homem sentado em sua solidão dividida com os pombos que habitam a praça e ficam à espreita de alguém que derrube do pacote algumas pipocas.
Ali estava com ele e em sua figura uma verdadeira obra, o livro de sua vida, esquecido naquele banco, mas sem permitir que alguém o apanhasse para esmiuçar suas verdades, suas crises, suas dores, seus malabarismos para quem sabe manter uma família e até mesmo as poucas alegrias que possa ter tido lá na juventude.
Um livro velho e esquecido no banco da praça, muito longe de uma campanha , tão distante de todos os olhares que atravessam a praça.
É a lente e os olhos que observam o instante e o captam para sempre. Lá ficou o livro esquecido enquanto a tarde se esvaia. Lá ficaram com ele seus segredos, seus sonhos, seus desejos e suas decepções. E lá fui eu adiante divagando sobre esses livros vivos que atravessam as ruas e as praças, empastados, empacotados, apressados, correndo contra o tempo para chegar a uma estação que nunca aparece.
Somos sim livros que se movem e cujo teor escrevemos um pouco todos os dias, mas o tempo que é implacável em sua passagem é quem dirá, a cada um de nós, se iremos ocupar aquele espaço especial na estante ou ficar esquecido para sempre num desses bancos frios que pouco se importa se a tarde se esvai, se a noite cai e se o amanhecer trará um sol resplandescente uma uma chuva torrente. (Pedro Brasil Jr – 07/08/2017)
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