Longe caminhei um dia, numa dessas melancólicas tardes de outono, por entre o arvoredo e, a cada passada, meus pés moíam algumas folhas secas daquele enorme tapete. Folhas em despedida de sua passagem e altivez quando ainda lá no alto das árvores, desenhando um cenário verde e único.Nuas, mas sem demonstrar vergonha alguma, as árvores então dormentes, totalmente alheias a tudo o que ocorria à sua volta. Uma preparação para a novidade primaveril.
Uma tarde fria e melancólica que a cada ano se repete e que leva muitos de nós a criar expectativas a respeito do futuro.
Nós e nossas lembranças!...
Nós e nossas alegrias!...
Nós e nossas dores!...
Nós e Nós mesmos dando passadas no tapete de folhas secas.
De quando em quando uma rajada de vento a varrer sutilmente parte das folhas, criando desenhos insólitos.O outono se esvai gradativamente a cada dia e os rigores do inverno haverão de dançar por entre as árvores nuas, como fantasmas impiedosos que lá no fundo não assustam ninguém.
Nós e Nós mesmos seguiremos passando pelo caminho todos os dias e ao longo de cada um deles, o tapete estará sumindo e logo, aquelas folhas secas estarão todas definitivamente tomadas pela magia da transformação da natureza.
As árvores, apesar de dormentes, seguirão extraindo das entranhas da terra tudo o que necessitam e depois que o inverno partir, abrir-se-ão verdejantes talos e através deles, folhas verdejantes, novas, a recompor o cenário e a nos transformar também.
Nós e nossas recentes lembranças!...
Nós e nossas novas alegrias!...
Nós e nossas possíveis novas dores!...
Nós e Nós mesmos em passadas pelo chão firme, sem tapete de folhas secas, mas passadas determinadas ao novo ciclo de vida.
E chegará assim a nova primavera!
Embora mais velhos, e não haveria como ser diferente, um tanto mais renovados, se evidentemente
tivermos a graça de perceber que ao redor, o mistério de todas as vidas segue esboçando seus magníficos desenhos em nossa jornada através do tempo.
(Curitiba, 31 de maio- 2011)
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