“...mas agora, nesta primeira grande ruptura de minha maturidade, sinto que os limites de minha arte e de minha vida se aprofundam imensamente com essas lembranças. Como se fossem reconstruídas em pensamento”
(Justine – 1º vol de “O Quarteto de Alexandria” – Laurence Durrel).
LIRA DOS SETENTA
-Rita de Cássia de Amorim Andrade-
Ao longo desta vida
as velhas lembranças são como
velhas histórias contadas
por velhos sábios, tão distantes
de mim estão!
Das mais recentes,
são as rupturas as que mais
me comovem.
A morte de ALONSO:
às vezes, a mente se confunde,
e penso que ele estará de volta
a qualquer momento.
Depois, a mente se aclara
e o sonho se desfaz.
E a ruptura dos vivos?
Quem se foi sem dar adeus?
Alguém, talvez, que teve medo de dizer
“adeus”?
Existe alguém que se esqueceu de
dizer adeus?
Todos os amigos estão por perto?
Não falta ninguém?
Nem sempre a ausência de
um amigo significa ausência
de amizade.
Digo “amigos”, porque
são partes de mim própria.
São células, quase sempre
sadias, que se desprendem
do meu corpo
pela força do destino.
Retornar-se-iam?
Não sei, mas são pedaços de
minha história.
São os de corpo e espírito,
Vivos ou mortos.
E os parentes
próximos e menos próximos?
Estão correndo pelo meu
sangue, não têm como escapar,
não os deixo escapar.
É também difícil deixar
escapar os amigos não consanguíneos.
Tenho um prana rente a minha
pele, que teima em mantê-los
dentro dessa atmosfera individual,
como os corpos terrestres,
cuja camada atmosférica
não nos deixa cair no vazio
do espaço.
Assim, segue o meu tempo de
humana, até quando,
não sei.
Como esses 70 anos
são de uma vida bem
vivida,
tenho que celebrar com
champanhe e
velas perfumadas.
Levantar a taça aos que estão
próximos e aos que estão
distantes.
Teresina, 02 de dezembro de 2009
Um comentário:
Gostei muito do que escreveu!
Ultimamente tenho sofrido algumas rupturas, e nem tiveram tempo de dizer adeus!
Mas também não os vou deixar escapar, e correrão no meu sangue para sempre!
Obrigado por ter visitado e comentado o meu blog!
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