Dos sonhos construímos a existência.
Das ilusões que bailam vida afora, extraímos o mais puro e transparente néctar.
E através dele, de suas misturas tão misteriosas, podemos mais tarde saborear a doçura ou o amargor de nossas escolhas.
A vida pode ser um vigoroso alazão em galope constante, onde cavalgamos desenfreadamente na busca de alguma coisa que está por lá, em algum lugar dessa imensidão que nos cerca.
Mas isto pouco importa!...
Começamos a cavalgar muito cedo, ainda que nem se perceba o estilo e a vontade de fazer bonito, de jamais cair do cavalo e se entregar a um instante de ridículo. Mas o que seria a conquista se não fossem nossos tombos? Como aprender mais sem cometer mais erros também?
Minha vida seria apenas e tão somente uma poesia perdida entre as páginas de um volume qualquer. Mas estaria lá, aguardando olhos mais atentos para demarcaram uma leitura dinâmica. Talvez muito pouco esses olhos levassem de mim. Talvez muito pouco também, eles deixassem para minha escolha.
Mas esta poesia de vida que também singra as paisagens nas patas de um alazão qualquer, às vezes ganha vida própria e tem o poder de me levar lá na frente ou me devolver bem lá para trás.
A vida... essa vida que vivemos em círculos constantes é apenas um gigantesco carrossel, com seus cavalinhos entalhados e coloridos, que levam nos lombos nossos sonhos infantis, nossas ilusões adultas, nossos desejos mais secretos, nossas dúvidas mais cruéis e nossas vidas tão juntas e ao mesmo tempo tão separadas por estas cavalgadas intermináveis, onde jamais sabemos quem está na frente ou bem atrás. Esta cavalgada que parece um filme, um daqueles de jornada longa, com aventuras de todos os tipos e estilos, onde somos os personagens centrais, ainda que sejamos os mocinhos ou os bandidos. Uma aventura mágica, com trilha sonora única, digna da presença de um palhaço malabarista, capaz de tropeçar no próprio sapato e bater sua cabeça dura com a cabeça de pau de um desses cavalos inertes, mas incrivelmente cheio de vida.
A trilha segue, ilustrada por nossos gritos, nossas risadas, nossos acenos felizes, nossa esperança incrustada naqueles entalhes onde o artista dedicou horas a fio para obter um resultado todo especial.
O carrossel é arte pura e através dele, seguimos em frente, num círculo que nos faz lembrar a Terra girando ao redor do Sol e nos obrigando a mudar de estações, porque a viagem é longa e as flores estão sempre à nossa espera. Vamos a elas como abelhas serviçais, carregando o néctar para fabricar aquela transparência que há muito perdemos e cujo brilho, apagamos com nossas mãos imundas e nossos pensamentos insanos. Aquele cristal único que decidimos lixar com nossa ignorância e assim, criar uma opacidade cruel, que esconde de nós mesmos a verdade mais tênue e que nos obriga a seguir em círculos numa busca ansiosa por nosso próprio caráter. E onde havemos de estar senão apenas e tão somente em nosso magnífico carrossel?
( Pedro Brasil Júnior )
São José dos Pinhais, 29/04/2009 - *Publicado originalmente na Usina de Letras.
Um comentário:
Hum! Boa reflexão.
E quando caímos do cavalo
e percebemos o carrossel, apertamos a chave que desliga.
E notamos os entalhes dos cavalos e a roda que gira.
E as abelhas serviçais podem escolher as flores para fazerem seu mel!! bju obrigada pelo presente. presente!? sem o passado e sem o futuro. presente!!julia.
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