quarta-feira, 27 de junho de 2012

A POESIA DE JAMIL SNEGE

Depois que o coração silencia
-Jamil Snege-

Para onde vai o canto,
depois que os lábios se fecham?
Para onde vai a prece,
depois que o coração silencia?
E os rostos que amamos
para onde vão, Senhor?
depois que nossas pupilas
se transformam em gotas de lama?
Ontem vi uma andorinha
que devia ter uns cinco milhões de anos.
Será que eu também sobreviverei
ao que restar de mim?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

QUAL O SIGNIFICADO DA LIBÉLULA?

Na primeira vez a surpreendi se debatendo no vidro da janela! Com calma e extremo cuidado a apanhei com as mãos e assim, cansada, se aquietou até recuperar as forças e partir para seu destino. Foi um curto espaço de tempo, coisa de dois minutos e que para nós dois, acredito, tenha sido uma eternidade. Para mim, um cadinho mais de descobertas a respeito de outras vidas e para ela, certamente, a aventura inesquecível de enxergar a vastidão do mundo e não poder entrar.
Graças a Deus, mãos salvadoras lhe devolveram à vida. Era uma Libélula! Na segunda vez nosso encontro foi mais original, bem próximo ao mundo onde vive, onde as águas lhe provêm alimento e um bom tanto de espelhamento. Claro que não era a mesma da primeira vez, mas senti uma certa gratidão naquela segunda. De repente pousou no meu ombro e ali ficou por instantes, inerte, com suas frágeis asas mexendo-se em camera lenta. Depois partiu rapidamente num vôo mágico, para cima, para baixo, para o lado e rente ao espelho da água. Um espetáculo de dança único, esplêndido, que ao meu ver, só as libélulas tem a capacidade de promover. Ambas a cenas se eternizaram em minha mente e um belo dia, novo reencontro, mas desta feita assistindo o filme “O Mistério da Libélula”, uma película envolvente, com bom roteiro, ótimas locações e uma história que realmente emociona.
A cada espaço de tempo, lá ressurgem no meu caminho esses sêres alados mágicos e em cada reencontro, vou fazendo novas descobertas. Desta vez o motivo foram os selos postais lançados em Aland, que retratam duas belas libélulas e que me obrigaram a fazer uma pesquisa rápida para poder chegar até esta linha. Porque daqui para frente, tenho que adentrar na pergunta que muitos já fizeram, outros fazem e por certo, outra legião de pessoas o fará no decorrer do tempo: Qual é o significado da Libélula?
As respostas a seguir foram extraídas do blog Carpe Diem, da Marina Melo, de Itaboraí/RJ (http://marinamelow.blogspot.com.br/2009/03/libelula.html)
Libélula= libellulus, o diminutivo de livro(liber),devido à semelhança de suas asas com um livro aberto, ou libella, que significa balança, pelo movimento de suas asas que oscilam levemente durante o vôo. Aparelhada com o maior olho proporcional do reino animal, a libélula usa seu sofisticado aparelho visual como um radar.
Posicionando-se sempre contra a luz solar, é capaz de detectar movimentos impercepetíveis aos nossos olhos. O batimento das asas e a possibilidade de planar da “demoiselle”(senhorita, como a libélula é chamada pelos franceses),inspirou o brasileiro Alberto Santos Dumont na criação de seu modelo mais bem sucedido. Aparece no outono e simboliza mobilidade, transitoriedade e autoconhecimento.
É a essência dos ventos de mudança, de transformação positiva. Irrequieta, voa incessantemente, planando, dando rasantes, subindo ou pousando como um helicóptero; e parece ter sempre muita pressa. Isso porque este inseto está sempre vivendo o ponto culminante de sua vida(até se transformar em libélula, passando por metamorfoses, sua vida dura em torno de
4 anos e quando adulta, vive muito pouco – 3 meses no máximo- e não tem tempo a perder. Este belo inseto atraído pela Rica Luz, representa a imortalidade e a regeneração da vida julgada perdida, que se encontra no vôo cego que tudo enxerga dentro da própria vida...

Selos postais recentemente
emitidos por Aland e que
motivaram o presente artigo.
A libélula simboliza ir além das ilusões criadas por nós mesmos que limitam nosso crescimento e mudança. As libélulas são um símbolo de autoconhecimento que vem com maturidade. São voadoras fantásticas, rápidas como a luz, torcendo, girando, mudando de direção,
mesmo indo para trás demonstram sempre a necessidade de se levantar e recomeçar. Sigamos então, dentro do que nos for possível, este exemplo de vivacidade que a Natureza nos proporciona atráves desses mágicos vôo da libélula.


terça-feira, 12 de junho de 2012

A POESIA DE MARIA JOÃO CANTINHO

Dai-me o exacto exercício das palavras
flores de carne, sangradas
até à minúcia. Rigorosas.
Mas como dizer a dança
da luz, sobre os teus passos,
o riso, a errância dos gestos
sem que as metáforas destruam a exactidão
e a música se enrole nas sílabas,
como dois amantes
esquecendo a dualidade,
entrando na vertigem da unidade?

Maria João Cantinho nasceu em 1963, em Lisboa. Viveu em Angola até à adolescência e regressou a Portugal, após a independência de Angola. Licenciou-se e realizou a dissertação de mestrado em filosofia, na área de estética. É professora no ensino secundário. Colaborou na revista Livros, na revistas on-line Crítica - Central de Cultura e é membro do conselho editorial da Storm Magazine no jornal de poesia Hablar/Falar de Poesia, pela parte da Casa Fernando Pessoa. Integra o conselho editorial da revista Agulha, onde colabora regularmente. No ano de 2001 publicou o livro de contos A Garça. Em 2002, publicou o livro de poesia Abrirás a Noite com um Sulco, ao qual foi atribuída uma menção honrosa no premio da Associação Fernando Pessoa. Tem publicações diversas, no âmbito de premios literários e menções honrosas, nas modalidades de conto e poesia.

AMOR É FOGO

AMOR É FOGO
sonêto 11 de Luiz Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?